Thursday, 25 de April de 2024

Mais de trinta

Garotas de programa e sexo pago: aonde se chega consumindo?

Sabe quando é que percebemos que estamos ficando maduros? Não é pelo óbvio envelhecimento físico de nosso rosto refletido no espelho, na realidade é quando perdemos aquela falsa, porém necessária ideia de eternidade da juventude, quando percebemos que tudo, inclusive nós mesmos, teremos um fim. Assim sendo, alguns de nós por razões de sofrimento ou amadurecimento precoce percebemos isso antes da maioria. E o legado que deixaremos? E se as garotas de programas começarem a pensar nisso, como será que encarará seu futuro? 

Lola Benvenutti - Garota de programa

Lola Benvenutti – Garota de programa

Há muito é dito que essa antiga profissão (e na minha opinião necessária) causa grandes impactos emocionais nas partes envolvidas, não só diretamente às garotas, mas até para quem se envolve com elas e usufrui de seus serviços habituais (nós, os convencionalmente chamados de “putanheiros”). Em relação à elas, se fala muito que é um dinheiro rápido, obtido de uma forma não tão fácil. Já em relação à nós, é dito que é uma falta de caráter intrínseca, um homem que ainda precisa pagar por sexo em pleno século XXI. Certo putanheiro antigo que respeito muito em suas opiniões sinceras e contundentes, me disse certa vez:”não pense que elas (as garotas de programa) tem carinho por nós clientes, não importa o quanto gastamos com elas ou as tratemos bem, elas no fundo nos desprezam e sentem que seus corpos estão sendo violados por nós que usamos do poder financeiro para obter algo que não nos é concedido por vontade das mesmas. Deixando os preconceitos sociais e morais de lado, concordo em partes com tais colocações. As meninas ainda jovens entram nesse perigoso mundo para faturar alto e em pouco tempo, e se tiverem sorte ou talento natural para a coisa, realmente conseguem isso. E vamos ser absolutamente sinceros e deixar nossos egos machistas de lado, esse papo de  “não querer envolvimento social, só sexo… pago para a garota não me ligar no dia seguinte. As civis (não-profissionais) são muito chatas, frescas e nem sabem transar direito”, isso só fica convincente na boca de um Charlie Harper da vida (personagem putanheiro de seriado norte-americano). Eu destaco 3 motivos principais para um homem recorrer ao sexo pago como meio de saciar suas necessidades sexuais-fisiologicas:

1. Extrema timidez e insegurança frente ao sexo oposto: nesse primeiro grupo estão aqueles que invariavelmente perderam sua virgindade com profissionais, sendo os últimos da turma a conseguir isso. Nunca conseguem manter um namoro ou mesmo paquerar em ambientes propícios a tal prática, e recorrem à garotas de programas como única alternativa para seu bloqueio mental-emocional no trato com as mulheres em geral. Por exemplo, dizem que o finado Matsunaga quando jovem era assim, e todo mundo sabe com quem ele se relacionava e qual seu triste final por isso.

2. Homens casados e insatisfeitos com suas parceiras: esses com certeza fazem parte do grupo majoritário dos consumidores do produto GP (garotas de programa) de luxo. O cara está há um certo tempo casado mas o fogo da paixão se perdeu (se é que algum dia teve) e por descaso da patroa, o cara recorre à profissionais para satisfazê-lo e obtém um prazer quase que cruel de saber que está enganando a esposa e talvez inconscientemente a punindo por não satisfazê-lo na cama (Freud explica aí, gente… desculpe pela minha mania de analisar quase tudo de forma psicológica ou filosófica). Acho que li demais sobre o assunto da psique humana.

Garotas de programa

Garotas de programa

 3. Homens solteiros ou separados de meia-idade: o grupo derradeiro do qual faço parte. Veja bem, estou resumindo em 3 apenas, porque percebo que são os que consomem com mais regularidade o serviço das garotas de programa. Não considero aventureiros ocasionais ou playboys tentando se auto-afirmar em Boates, estou falando dos putanheiros contumazes, podemos até dizer viciados no ramo. Separado (vou citar o meu exemplo, porque sou no momento a pessoa que mais se conhece e se auto-analisa): filho único da parte de mãe,que teve que se virar quase sozinho para cuidar da mesma em sua fase terminal de vida, descrençado, desesperançado na vida, sem muitas expectativas grandiosas ou sonhos (apenas o de ter um livro publicado, desse sonho jamais desistirei) de repente se vê a 3 anos e meio sem transar com ninguém. Algumas que apareceram demonstrando certo interesse, ou eram mais problemáticas do que eu, ou nem sabiam direito expressar o que realmente queriam. Nos últimos 20 anos da minha vida eu trabalhei na noite em atividade freelancer, além do emprego formal é logico (cinegrafista, garçom, segurança ou organizador de eventos), mas faz tempo que não vejo graça em caçar beldades nas pistas de dança, ou nos balcões de bares. Muito papo, pouca objetividade e principalmente pouca luz, o que acaba decepcionando quando vemos a garota no dia seguinte. Sou chato também, como a maioria dos putanheiros, e não aceito ficar com qualquer uma que corresponda à minha aparência atual (quarentão com a funilaria meio gasta, como disse maldosamente um putanheiro colega de Fórum sobre o assunto). Queremos beldades, queremos jovens e gostosas panicats, afinal de contas estamos pagando alto por isso.

Solidão é nosso problema, o âmago de tudo, pelo menos nisso somos iguais as nossas belas e jovens cúmplices de fornicação: somos extremamente, e em alguns casos, irrecuperavelmente solitários. Estranho dizer isso, não é? Alguns de nós devido ao nosso estilo marginal de vida, estamos sempre em bares e festas acompanhados de belas mulheres com pouca roupa. Alguns de nós (putanheiros clássicos) já temos catalogados mais de mil intercursos sexuais na carreira… e mesmo assim somos solitários. E quando estamos bebendo e relaxando nos entregamos e percebemos isso nos olhos um dos outros e talvez até tentemos disfarçar por vergonha, por medo de ser taxado de sensivel ou menos macho, mas na real um putanheiro sempre lê o outro mesmo no silencio entre goles de drinks (esse é um dos códigos universal do mal do século), segundo o sábio Renato Russo: “a solidão”.

Tem um conto do Stephen King, mais conhecido por seus livros de terror, que foge bastante a essa regra, chama-se: “O último degrau da escada”. Se tiverem a oportunidade de lê-lo, leiam com a mente aberta tanto à garotas de programa como putanheiros. Esse conto fala de um homem ocupado (um advogado de uma grande firma de Nova York) que recebe um comunicado da Polícia sobre sua irmã que cometeu suicídio, pulando de uma cobertura onde participara na noite anterior em uma dessas festinhas regadas a álcool e outra substâncias ilegais. Ela era acompanhante de luxo. Ele se lembra de um incidente de sua infância onde salvara a vida da irmã, ambos ainda crianças, quando uma travessura que fizeram saiu do controle e ele a salvara de uma queda certa para a morte devido ao degrau podre de uma escada de celeiro. No bilhete onde ela se despedia dele, estavam as tristes palavras: “hoje desejo sinceramente que você não tivesse me salvado naquela minha queda de infância, e estou corrigindo isso agora saltando desse prédio para meu destino inevitável.”, triste não é? Mas ela percebeu que a vida vazia e solitária que levava, não valia a pena.

Será esse meu fim, é o que pergunto. Sem a dramaticidade do suicídio é logico, mas será que um dia me lembrarei dessa vida de  putanheiro e perceberei o quão vazia e sem propósito ela é? E no meu âmago o viciado “morrerá”? E qual será o fim de nossas belas prestadoras, quando seus corpos e mentes não mais aguentarem a pressão dessa vida turbulenta, e quando não atraírem mais novos clientes com sua beleza finita? Fico só pensando, mas talvez esse seja meu mal: pensar demais. Vamos viver e aproveitar, pois como diziam os filósofos epicureus da antiga Grécia: “comamos e bebamos, pois amanhã com certeza, morreremos!” Carpem Diem.

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