O que você fez com aquele amor bandido e com as noites mal dormidas? O que você fez com aquela amiga da onça que te traiu?
O que você fez com aquele professor do mestrado ou da faculdade que te deu uma nota inferior do que você supostamente merecia? O que você fez com uma traição, com uma mentira, com um falso amigo? O que será que nos mantém intactos depois de uma decepção? Depois dos dias de luto, quando matamos um sentimento ou alguém dentro de nós? Como será que cada um lida com os próximos passos? Será que não acabamos comentando os mesmos erros, será que mudamos a nossa fé no mundo e nas pessoas?

Eu não tenho essas respostas, diria como conselho que o bom é distrair-se, tentar limpar o coração de sentimentos negativos. Se manter ativo, sair para dançar, ir a uma peça de teatro, estar com gente que acolhe, ombro amigo, essas coisas. Mas eu também sei que a dor fica lá, guardada. Tem algumas pessoas que precisam de um tempo recluso, outras que preferem cair na gandaia.

Uma vez escutei um conselho que até pareceu bobo, mas nunca esqueci que só o tempo cura as dores. E é verdade. Na hora eu lembro que fiquei com raiva, porque a tristeza tem suas urgências, ninguém incrivelmente sadio escolhe chorar e ficar deprimido.
Por mais que às vezes não sejam dias, quando você menos espera está rindo outra vez e repetindo algumas historias. Olha acredite, nós temos um dom incrível de repetir os mesmos erros, embora eu não os chamasse assim. Eu continuo confiando que ninguém erra só porque quer, a gente tem dois pólos, o da sensatez e o da racionalidade.

E qualquer um desses dois, as ações geram reações e precisamos estar preparados para “perder” ou ganhar. Mas o que se perde afinal? Não é melhor ter fé que se ganha uma bagagem, ganha-se experiências e ganha-se a esperança de que coisas boas aconteçam para pessoas boas?

Não acredito que a gente se torne mais frio e afirmo que continuamos caindo nas mesmas armadilhas. Talvez o choro vá embora mais rápido e as feridas cicatrizem mais breves, mas a dor sempre existe e a culpa também. Às vezes nos culpamos porque não fizermos tudo diferente, mais continuo afirmando “as coisas são como são”, às vezes os motivos mais simples do que complexos. Embora não sejamos jamais culpados por nossos sentimentos, nem quando sentimos raiva. Relaxe de achar culpados para sua dor, a dor faz parte de toda evolução.

Algumas coisas são tão rápidas quanto vem. Uma paixão que parece durar a eternidade, por exemplo. Um emprego que se perde, mas que logo dá um alivio por ter encontrado outro. A traição de alguém, que deveria nos deixar aliviado por retirar aquela pessoa da nossa vida. Não importa o quão dura seja essa dor, o importante é o que ela deixa quando vai embora. Ela não pode chegar e devastar tudo por onde passa, ela precisa deixar suas marcas, mas que você faça das marcas ensinamentos. Tudo bem que nos deixe mais forte, mais que mesmo assim não nos deixe rígidos.

A vida foi feita exatamente para isso, para que a gente viva momentos de transformação, que a gente acerte e erre. Será que não magoamos alguém também? E o que será que essa pessoa fez com a magoa que deixamos? Será que somos piedosos com quem nos magoa, será que também nos importamos com quem magoamos?

Penso que esse tipo de pergunta determina também como escolhemos sofrer. Se fechamos as portas para novos acasos ou se nos trancamos… Quando achamos que estamos no fundo do poço é que renascemos em outras formas. Desde que se abra o coração para ser mais e nunca menos. Desde que aceitemos novas histórias, novos capítulos, novas marcas…

A vida é feita de sorrisos e lágrimas, não tem remédio se não o tempo, e o que você faz com a dor que te deixaram. Então meu conselho é, tenha mais energia para se recompor e pensar em coisas bonitas. Em suas preces, reze para quem lhe deixou marcas e agradeça ao seu crescimento. As coisas passarão e deixaram marcas que amanhã vão compor a pessoa que você se tornou.

Leia outras colunas de Luciana Mazzilli

Conheça outros colunistas do Mais de Trinta.

Comentários

Comentários