Thursday, 28 de March de 2024

Mais de trinta

Tenha uma boa hora

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Eu não sei para vocês, mas de todos os desconfortos normais de uma gestação como as sonolência durante o dia, constipação (nome bonitinho para intestino preso), desconforto para dormir, inchaço, dificuldade de encontrar posição para dormir, azia, enjoo e, essa eu não tive viu, mas uma “amiga” me disse que em média 15% das grávidas ainda podem ter hemorroidas.
Para mim, o maior desconforto era a hora do parto, a famosa Boa Hora. Nunca foi meu maior sonho passear pelo corredor do hospital, entrar em uma sala gelada, ficar com os braços presos – um ao soro e o outro no aparelho de pressão – e sentir uma agulhada nas costas da anestesia. Confesso que preferia pensar na criança aparecendo de forma mais sublime, como o momento em que foi feita, por exemplo.

Mas, como dizia minha avó mineira “se o trem entrou, tem que sair”, lá fui eu para o sagrado e, para mim, também temeroso momento. Meu marido estava em êxtase para chegar às 15 horas daquele belo dia e eu só conseguia pensar “claro, não é a barriga dele que vão cortar”. Como meu BerNNardo nasceu prematuro, a única opção era a cesárea. E lá fomos nós!
Entrei na hora marcada, marido ao lado segurando minha mão e os médicos se comportando como funcionários de qualquer departamento, ou seja, mais um dia de trabalho que, ainda bem, eles já estavam mais que acostumados. Feitos todos os procedimentos, após alguns minutos, escutei a querida dra. Patrícia dizer “preparada, Margarida? E você Mauro, tem certeza que seu filho vai nascer e você não vai ver?” – ele tinha dito durante as consultas que não gostaria de ver a tal “barriga cortada”. Mas, para nossa sorte, ele levantou munido de sua câmera fotográfica, colocou-se no lugar estratégico para acompanhar e fotografar o melhor primeiro momento das nossas vidas com o NN.
Sim, eu também estava preparada! Agora, em um momento mi mi mi, tentem imaginar a cena que vou narrar em câmera lenta. S2.
 A primeira coisa que escutei foi o choro e, neste instante, as lágrimas começaram a descer dos meus olhos de uma forma nunca antes vivenciada, parecia que elas brotavam sem raiz, sem que antes um sentimento fosse necessário para que elas viessem. Digo sem sentimento porque, até aquele momento, não conhecia aquele desencadeado pela voz do pequeno. Era novo para os tantos conhecidos.
 Meus olhos procuravam o BerNNardo, eu queria vê-lo, saber onde estava, como era, com quem parecia, se a gente tinha feito ele tão perfeitinho quanto imaginávamos. Fiquei como se o corpo todo estivesse adormecido. Meus sentidos foram aos poucos se restabelecendo quando bem lá no fundo escutei meu grande companheiro gritando: “que louco, que lindo, olha isso Margarida, olha isso”. E eu, meio pensando: “nossa o hospital inteiro deve estar escutando esses gritos” – coisa de mulher né gente – e meio sentindo o moleque ser entregue em meus braços, pude beijá-lo e dizer todo o amor que já sentia pulsar no meu peito.
Restabelecida por completo, a câmera lenta se desliga quando nosso “soldado valente” foi levado para a UTI neonatal, pois como era prematuro, precisava ficar na incubadora por um tempo. Sabendo que aquele procedimento era normal, fiquei tranquila e esperando que costurassem o corte que foi aberto para o “trenzinho Bê” sair. E, acreditem, as médicas faziam aquilo conversando sobre o vestido de um tal casamento que iria acontecer, com a excelência de duas profissionais tranquilas, que sabiam muito bem o que estavam fazendo.
Pois é, a tal Boa Hora, tornou-se para mim, a Ótima Hora. Todo o medo passou e eu entendi o significado do nome dado a ela. Por isso, se a sua estiver chegando, pense nela como a oitava maravilha do mundo.
O único trauma do dia foi culpa da família, quando cheguei ao quarto, como sempre, em momentos importantes, estavam todos lá: mãe, pai, sogra, irmãos, primos, sobrinhos e afilhado. Ao avistá-los, quis imediatamente começar a contar sobre o choro, as lágrimas, os gritos do marido etc.etc. Para minha surpresa, nem tinha começado a primeira frase, escutei a mesma pergunta de todos “Cadê o BerNNardo?”. E, antes mesmo de eu acabar a resposta, consegui escutar o “vupt” de todo mundo saindo em direção ao 8º andar onde ele se encontrava.
A enfermeira, super acostumada com o momento, disse: “Margarida, “liga não”, eu fico aqui te fazendo companhia, eles logo estarão de volta”. Eu fechei os olhos e pensei, “vocês estão certos, vão lá conhecer nosso BerNNardo, se eu pudesse, estaria lá também”.
Desejo a todas vocês uma Boa Hora, Ótima Hora, Belíssima Hora também. <3

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