15 de maio de 2014 Enviado por Ana Ruiz colunistas minha-filosofia solidão traição vida viver
Uma história de vida
Meu admirado Ricardo, escrevo essa carta porque preciso lhe contar uma tragédia imensa que aconteceu em minha vida nos últimos dias e, sei que será algo muito triste para o senhor também. Foi uma perda muito grande, mas abriu meus olhos para que eu jamais largue a minha carreira, mesmo que ela não seja tão promissora quanto a dela, por nada nesse mundo. A Joana faleceu no último domingo, afogada por todas as palavras que nunca pôde dizer às pessoas que verdadeiramente amava.
Era uma vez uma moça linda e muito meiga, filha de um casal extremamente humilde do interior de Minas. Para sobreviver, ela precisou começar a vida trabalhando com 12 anos, no único ramo em que poderia encontrar uma fonte de renda confiável e claro, no período da noite para não correr o risco de prenderem seu patrão por trabalho de menores, um senhor que ela admirava muito, amigo de seus pais e que cuidava dela com o carinho que seus pais não podiam dar.
Todo o dia, antes de sua morte, ela me contou essa história seguidamente, dizendo o quanto se encantava trabalhando e o orgulho que tinha de sustentar-se e aos seus pais, mesmo que isso jamais tenha sido reconhecido por eles e por ela não receber nenhum mínimo carinho em troca, principalmente depois de ficarem doentes e passarem inúmeras necessidades, que os deixavam irritados e atormentados, mas ela nunca reclamou e cuidou deles ainda assim.
Até que numa bela manhã de quarta-feira, com o Sol bem quente como ela gostava, saiu do trabalho, ainda sem dormir e foi direto à feira, fazer as compras da semana, te conheceu e sua vida mudou. Ela passou a trabalhar com menos amor, por saber que seus horários a distanciava de você. Começou a viver amargurada, principalmente por não poder lhe contar nada, nem a você e nem a ninguém, já que era namorado de sua melhor amiga. No fundo, ela sempre imaginou que o senhor também era apaixonado por ela Ricardo, mas seguiu a vida com essa incerteza.
Só que ninguém contava com o fato de que ela engravidaria e que teria que ter a filha sozinha, sem o apoio do pai, no mesmo mês em que seus pais faleceram. Foi muito difícil encarar uma gravidez assim e cuidar de uma criança também. Nossa, como ela foi triste! Não tinha mais a carreira, nem ninguém, mas tinha uma tarefa imensa pela frente, educar uma criança, sem o emprego que tanto amava, sem recursos, sem o amor de sua vida.
E então que eu resolvi lhe contar todas as coisas que ela deixou de dizer, o verdadeiro amor que nutria por ti e que largou a carreira que amava, que lhe dava dinheiro e status e que recebia milhares de convites para ir à São Paulo, um lugar que ela morreu com desejo de conhecer. Não pela filha, ainda criança, mas pelo respeito que tinha pelo homem que amava, mesmo que distante, pois sabia que o senhor não gostava dela seguindo essa carreira na vida.
Daqui para frente Ricardo, você pode até seguir os seus dias como sempre foram, mas tenha em seu peito a certeza de que, enquanto minha mãe era viva, o senhor realmente era amado e acima de tudo respeitado.
Assinado: A filha da puta.
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