Wednesday, 24 de April de 2024

Mais de trinta

Quando é a hora de seguir em frente ou dar a outra face

Uma das coisas que mais atrapalha as pessoas é o uso do ego nas decisões. Para nós somos sempre mais importantes do que o resto. Sim, lá no fundo, mesmo que equivocadamente, você acredita nisso. O problema é em levar isso a sério e esquecer do mundo que há lá fora, de que coisas acontecerão com ou sem a sua ajuda, que ninguém é insubstituível e que quase nunca há vilões pensando em planos para te derrubar.

Monstros no armário

Crianças costumam criar amigos imaginários ou monstros no armário com o objetivo de atrair a atenção de seus pais. Logicamente não há nem um nem outro, afinal, com tanto armário no mundo, um monstro escolheria logo o seu? Não faz o menor sentido…

Adultos também criam seus monstros, mas tem outras formas: o chefe que te persegue, a colega de trabalho que te inveja, o irmão que consegue moleza por ser mais puxa-saco dos pais, o vizinho que tem a grama mais verde só para te provocar ou a amiga que é mais magra como se fosse de propósito.

Sabe o que essas pessoas estão pensando de você? Nada! Elas não dão a mínima importância para o que você pensa ou deixou de pensar!

Se você não teve o amor de alguém provavelmente não foi porque a pessoa pensou algo como “vou sacanear fulano, distribuindo a minha indiferença”. Há uma grande chance dessa mesma pessoa estar ocupada pensando em outra coisa, tentando fazer algo que nada tenha a ver contigo.

Sinto dizer isso, mas o mundo não está muito aí para o que você faz! Não é que você não seja importante, mas é que tem muita gente com igual importância!

Durante muitos anos pensei de forma diferente, achava que tudo que acontecia comigo realmente tinha a ver comigo. Uma bobagem que só me fez cultivar inimizades, rancor e mágoa, além de ter me feito passar recibo de idiota uma série de vezes.

Errei muito em me vingar de pessoas que me atrapalharam com suas atitudes. Isso só gerou mais desequilíbrio nas relações.

Para ficar mais claro, vamos supor que você tivesse algum parente vitimado em um acidente aéreo. A lógica mais natural seria imputar a culpa no piloto ou na aeronave, como se o primeiro derrubasse o avião de propósito ou se o fabricante tivesse pensado em fabricar um avião especialmente para cair. Porém, qualquer coisa parecida nada mais é do que uma fatalidade, não teve nenhuma força oculta que derrubou aquele avião só porque havia determinada pessoa nele.

Não adianta culpar alguém quando diante de um acidente. Claro que as pessoas ou empresas podem ser responsabilizadas por falhas, mas isso tem um caráter de reparação de danos, o que nem sempre é possível.

Antes de qualquer atitude acho que cabe pensar se a pessoa que te fez mal tinha exatamente o objetivo de lhe atrapalhar ou se você é apenas parte das consequências. Tire de si a importância que seu ego quer lhe dar.

Você teve uma vida ou um momento mais difícil porque alguém quis se dar bem? Acontece. Em cada esquina tem uma história igual. A vida está aí para mostrar que ultrapassar obstáculos faz parte dela. Aceite isso o mais rápido que puder e se concentre em produzir algo de bom para você!

E quando o monstro é você

Outro grande problema em colocar o ego na frente das decisões está no complexo de super-vilão. Nem sei se isso existe na psicanálise, mas se não existe, deveria existir.

Voltando ao caso do acidente aéreo, já pensou se foi você que deu a passagem para quem morreu porque estava em promoção e você quis fazer um agrado?

Existe uma chance de você “assumir” a culpa pela fatalidade e carregar um peso que não é seu!

Vejo isso acontecer quando um pai presenteia seu filho com um carro esportivo e o garoto mete o carro no poste porque quis fazer gracinha para os amigos. A cada dez casos onde isso acontece, em doza o pai se culpa.

Assumir a responsabilidade dos atos de outros é tão ruim quanto arrumar culpados. Os impactos na forma com que você lidará com a sua vida poderão agravar os problemas, tirando o seu foco daquilo que é necessário e do que você precisa construir.

Ter um ego grande não é um problema, pode até ser útil desde que você tenha discernimento para colocá-lo de lado quando tiver que tomar atitudes, seja a de seguir em frente ou a de dar a outra face.

Até mais!

Ps. Jesus deu a outra face porque havia tomado um tapa com as costas da mão, de forma a, caso tomasse outro, obrigar o agressor a usar a palma e demonstrar um mínimo de respeito.

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