Friday, 26 de April de 2024

Mais de trinta

50 tons de perda de tempo

As fãs enlouquecidas pela literatura erótica de 50 Tons de Cinza podem comemorar: finalmente o livro chegará ao cinema e agora todas poderão parar de imaginar as cenas e ver o sexo, o fetiche e a dominação que foram prometidos no texto. Christian Grey e Anastasia Steele, os protagonistas do conto, agora estarão representados em carne e osso.

Por que 50 tons de cinza teve tanto sucesso?

Diante de um mundo caótico em que pessoas optam por estabelecer laços com estranhos, ao invés de dedicar seu tempo e energia a quem está do lado, o sucesso da trilogia se dá como previsível. Que mulher não gostaria de receber atenção exclusiva que o Sr. Grey dedicava a sua escolhida?

Os homens do mundo real estão muito dispersos. Não duvido que um sujeito seja capaz de parar um ato sexual para postar algo no Facebook ou responder a uma mensagem no Whatsapp…

A fase careta que a sociedade brasileira vive, também é um combustível para elevar o conto erótico a um patamar de excentricidade sexual.

Um bom exemplo de como somos bundões é a bunda fotografada e noticiada de Paola Oliveira. Virou manchete nos principais portais como se fosse um espetáculo produzido por um extraterrestre. E do que se tratava? De uma bunda! Aliás, nem parecia que vivemos em um país que exibe bundas em programas infantis.

O beijo gay exibido em uma novela da Globo também teve igual comoção midiática. Me pergunto: sério que beijo gay ainda é algo que deve chocar alguém?

Caminhamos em grupos organizados há quatro mil anos. Desde que o mundo é mundo os homossexuais e os heterossexuais existem e agora isso virou estranho? Há pouco mais de dois mil anos, o exército mais temido da Grécia não era o de Esparta, mas sim o de Tebas. A formação dele consistia em 150 casais homossexuais. Isso mesmo que você leu, um exército gay em que os parceiros se defendiam.

O sexo do brasileiro anda muito no arroz com feijão

A verdade é que está faltando tempero, um bifinho ou um ovo frito. Aí escrevo um artigo falando que para ter um sexo incrível é preciso intimidade e percebo que parte de quem leu considerou o texto conservador. Confundiu intimidade com relacionamento, como se um dependesse do outro.

No 50 Tons de Cinza, não há grandes estripulias narradas, nem inovações que uma freira não consiga fazer. Claro que o clímax depende muito da intimidade que foi construída entre os personagens.

A obra trata do quê? Basicamente do fetiche de dominação. Por meio de jogos sexuais e psicológicos o protagonista desenrola a história. Nada mais.

Cena do filme 50 tons de cinza

Cena do filme 50 tons de cinza

Ler o livro e ver a reação eloquente das mulheres com a leitura me fez pensar em quanta mulher está por aí, comendo marmita requentada e seca. Sinal de que não foi colocada de quatro como deveria ou não experimentou uns tapas bem dados na bunda durante o sexo.

O escritor — quase sempre mal interpretado — Nelson Rodrigues, já afirmava que toda mulher gosta de apanhar, só as frígidas reclamam, o problema é que o homem não gosta de bater. Claro que ele não se referia a violência doméstica, mas sim ao sexo, puro e simples.

De quem é a culpa? 

Mulheres reclamam que seus parceiros não inovam, mas grande parte estranharia que eles trouxessem uma sacola de apetrechos eróticos (venda, algemas, amarras) e ficaria bem desconfiada das inovações.

Os homens também não ficam atrás. Coitada da mulher que compra um vibrador e o apresenta, sem diálogo prévio, ao marido. Se for um pequeno, estilo bullet, tudo bem. Mas se for um maior, como um rabbit, provavelmente encontrará um marido muito ressabiado.

É preciso perder o pudor, ele não combina com relacionamentos. É preciso amar, amar muito, nada de amor de fim de semana, de paixão de meio quilo.

Passou da hora dos relacionamentos serem mais abertos à criação de uma experiência íntima. Claro que não é tudo que idealizamos como fetiche que, obrigatoriamente, deve ser executado. Há portas que talvez não sejam para serem abertas, mas é preciso, no mínimo, ousar um pouco.

Se o casal for muito conservador, talvez seja melhor ver alguns filmes. Algo para abrir a mente, como “O império dos sentidos”, “9 ½ semanas de amor”, “O último tango em Paris”, “De olhos bem fechados” ou “100 escovadas antes de dormir”.

O diálogo é mais do que necessário. Não dá para guardar desejos e sentimentos sem que isso nos abale em algum momento e abra espaço para aventuras extraconjugais ou para o término do relacionamento. Quem não dá assistência, abre concorrência. É a lei!

O casal deve ser muito franco e aberto à experiências, porém, faço uma advertência: ninguém deve obrigar ou se ver obrigado a fazer algo, é preciso que ambos sintam prazer. Entre quatro paredes tudo que for de acordo com os presentes deve ser permitido, sem preconceitos, sem julgamentos.

O sexo só é bom quando é sujo. Pena que poucas pessoas entenderão isso.

Até mais!

Ps. Quer ler algo melhor que 50 Tons de Cinza? Recomendo o Trópico de Câncer, de Henry Miller e Justine, de Sade. 

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