Thursday, 28 de March de 2024

Mais de trinta

Eu não te amo mais… e agora?

Eu não te amo mais: Oque fazer quando o amor acaba?

Eu não te amo mais: Oque fazer quando o amor acaba?

Eu não te amo mais”, pensa numa frase difícil de dizer! Pensa numa frase difícil até de pensar…

Quando eu era mais nova, apaixonada pelo primeiro namorado, pedia: “Deus, não deixa eu levar um fora… Se for pra separar, prefiro eu mesma terminar.” — um super medo da rejeição! Mas, agora, tenho dúvidas, e nem sei se levar um fora é mesmo a pior coisa quando a relação não anda boa.

Não que ser rejeitado seja uma coisa normal, do tipo fácil de lidar. Mas, de todo modo, parece que existe uma “cultura do abandonado”, isto é, quando a gente sofre um revés deste, surge todo tipo de apoio de que a gente possa precisar. Os amigos nos acolhem com frases de efeito e estabelecem uma “confraria de largados”, só pra nos fazer em pé de novo… Os happy-hours cheios de mágoas — e brindes gritados: “Ele não me merecia mesmo!”; “Uhuu, estou na área”; “Aquela fulana ainda vai voltar de joelhos!” — tornam-se comuns e (é, né), até divertidos!

E no caso da dor ser muito grande, você ainda pode contar com um psi que vai olhá-lo com aquela expressão grave de comiseração e, quem sabe, até lhe receitar um floral ou algum tipo de passiflora para aliviar a aflição. Na verdade, nada disso vai curar sua dor, porque escapar desta tristeza (e desta raiva), é com a gente mesmo, mas que ajuda, ah, isso ajuda!

No entanto, como é que se faz quando não tem mais jeito, quando você (é, você), percebeu que precisa terminar, quando sente no fundo da alma aquela irritação do “eu não te amo mais”? Disposto a terminar o relacionamento (veja, não estou falando de uma situação onde já exista outra pessoa — talvez fosse mais fácil se existisse…), pois bem, disposto a terminar você se enfia, sem saber, naquela terra de ninguém, onde mais nada faz sentido, entre a cruz e a espada.

“Claro que você deve buscar ser feliz e permitir que a outra pessoa seja feliz. Claro que não há nada que justifique prender-se a alguém a quem você não ama mais.”

“Claro que você deve buscar ser feliz e permitir que a outra pessoa seja feliz. Claro que não há nada que justifique prender-se a alguém a quem você não ama mais.”

Primeiro vem a culpa, porque, afinal, se era amor como aconteceu de acabar? Por favor, sem culpas, pelo menos não por isso! Você não é fútil e irresponsável, é que estas coisas acontecem… Aquela criatura que você imaginou ser sua cara-metade, há mais ou menos uns três anos, mudou; você mudou, os caminhos que vocês tomaram já não se encontram. Na rapidez do mundo contemporâneo as coisas se modificam na velocidade da luz. Não é culpa sua e, certamente, também não é culpa do outro…
“Ah, mas meu avô viveu com minha avó por cinquenta anos…” Tá, mas vai saber quantos namorados, namoradas seus avós tiveram antes de se casar. Ou você acredita, mesmo, que eles só dirigiram seus olhares apaixonados um para o outro?
Depois, que opção seus avós tinham em um mundo cristalizado de dificuldades? Viver era muito mais difícil há setenta, oitenta anos. Ninguém tinha máquina de lavar, micro-ondas ou restaurante self-service. A primeira fábrica de geladeiras do Brasil é dos anos cinquenta!

Assim, manter-se juntos significava poder contar com a divisão de tarefas entre os cônjuges, era a forma de se conquistar um pouquinho mais de qualidade de vida. Separar-se só em último caso. Então, com menos culpa, você começa a tomar coragem, mas (pronto!) aí vem outro perrengue… É que, no fundo, você sabe que pessoas que têm relacionamentos estáveis são mais “consideradas”. O mercado de trabalho apoia e até estimula compromissos, sua família acha muito legal que você tenha “sossegado”. Até você, uma pessoa antenada e sem “pré-conceitos” olha com respeito para o casal de amigos que colocou a lista de presentes naquela loja super bacana.

Deixe disso e veja só: o mercado gosta de gente comprometida porque pessoas assim são mais estáveis e controláveis. É simples; geralmente quem está em um namoro firme tem mais projetos que incluem economizar e juntar dinheiro (casamento, casa, filhos), portanto quem está em um relacionamento sério aguenta com mais paciência os abusivos, e opressivos, desmandos do mercado — e, sim, esta é uma máxima que vale para homens e mulheres.

E quanto à sua família, que acha uma graça você ter “sossegado”? Como explicar para mãe, pai, tias, irmãos que você não quer “sossego”, que você está disposto a começar de novo? Não se preocupe, seus familiares costumam pensar assim mais por preocupação do que por qualquer outra coisa.

É que solteiros costumam se expor meio radicalmente em noitadas, em botecos — e conhecem gente nova de todo tipo —, isto é, solteiros colocam-se em situações que oferecem mais “riscos”… Mas, de qualquer forma, cedo ou tarde sua família vai entender que é melhor vê-lo feliz a vê-lo tranquilamente infeliz…

Finalmente, você se decide, respira fundo, decora o texto que vai falar pra outra parte e, finalmente, se separa, termina a relação que já não funciona faz tempo… Então voltamos ao começo deste artigo: você meio que vira o vilão da história; a pessoa que se enganou — e que acabou por “enganar” o outro —, a pessoa que não foi legal. Portanto, ninguém, ou pouca gente, vai lhe oferecer o ombro como se costuma oferecer àquele que foi “rejeitado”.

Não existe, com a mesma intensidade com que se constrói uma cultura de apoio ao refutado, uma cultura em favor de quem pulou fora, ainda que pular fora tenha sido a atitude mais honesta e decente que você poderia ter tido consigo e com o outro.
Pouca gente vai pensar que você está igualmente sozinho. Ou mesmo se lembrar de que a solidão que afeta sua ex-cara-metade vai afetá-lo de forma tão ou mais dolorida, porque, afinal, a outra parte tem o benefício de estar lá, com os amigos ao lado, recebendo a empatia de todos. Enquanto você…

Ser largado, por mais estranho que pareça, costuma ser mais bacana do que largar, mas largar também dói pra dedéu.
Então, o que fazer? Ficar em uma relação que está subtraindo sua alegria e a alegria da outra parte, ou correr o risco de encarar o fim — não sem antes comer o pão que o diabo amassou adoçado com solidão e falta de compaixão…

Qualquer um daria a resposta imediata. Até no Facebook você encontraria a resposta imediata: “Claro que você deve buscar ser feliz e permitir que a outra pessoa seja feliz. Claro que não há nada que justifique prender-se a alguém a quem você não ama mais”. Qualquer um diria coisas assim. Certamente é o que se espera de pessoas sensatas. E, com certeza, eu gostaria de fechar este artigo com um acolhimento bem certeiro também. Mas, nessa situação, de verdade, não tenho a resposta pronta…

Ana Issa é socióloga, pós-graduada em Teoria da Comunicação e Comunicação e Mercado.

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