Friday, 19 de April de 2024

Mais de trinta

A gente vive a vida, ou a vida vive a gente

Qual a chave dessa questão?

Qual a chave dessa questão?

Eu já quis ser bailarina, princesa e ajudante do Papai Noel. Depois quis ser dona de salão de beleza, publicitária e atriz, mas acabei sendo um monte de coisas.

Fiquei anos achando que meus pais haviam me criado apenas para um bom casamento (ainda tenho minhas duvidas). Também tentei casar e ser boa esposa, mas não deu.

Nesse “monte de coisas”, não sei se agradei ou se mais que isso, se fui agradada. Hoje, com a maturidade percebi que a felicidade é só questão de ser.

Ainda bem que sempre é tempo de algo novo e que existem chances grandes da gente dar certo. Ufa, me sinto em paz.

Acho que nos cobramos demais.

Seriamo-nos capazes de mudar o mundo ou o mundo capaz de mudar a gente?

Na verdade aqueles velhos planos tomaram outras formas, novos olhares e o coração novas vontades. Não terminei as duas faculdades que escolhi e acabei me formando em outra coisa completamente diferente do que imaginei que seria a vida aos 18 anos. E não trabalho com o que estudei. Uma loucura.

Desconectei meus desejos para dar chance ao acaso. O mundo é um acaso agradável.

E agora, me vejo mudando por acaso de profissão- se é que eu tinha uma.

Ainda não sei se me tornei a pessoa que queria, mas estou a caminho.

Tenho aprendido a ter mais compromisso e a ser fiel comigo mesma e que isso tem mais haver com amor próprio do que com vaidade.

Desprendi-me delas, o que eu procuro chama-se satisfação – que no fim do caminho lembra algo chamado felicidade.

Na verdade achei beleza no cíclico, algo que para mim havia certo desgosto. Eu, que nunca gostei de rotina – aprendi a amá-la. Agora não sei mais viver sem minha agenda de papel, com tudo anotadinho.

Mudei muito nos últimos anos, foi uma bonita despedida de mim mesma.

Mudei mais ainda nos últimos tempos, mais e mais ainda nos últimos dias. Na verdade acho que meu cotidiano me modifica. Quando permito olhar as coisas com outros olhos. Quando deixo de lado meus apegos e decido ser alguém melhor para o mundo.

Aprendi o que fazia parte da minha personalidade e a mudar aquilo que de certa forma me incomodava. Deixei a rebeldia do “sou assim mesmo, quem quiser que aceite” e fui concluindo que estava à procura de algo maior. Minha lista de amigos foi ficando menor, mas havia qualidade nas relações.

Meu tempo começou a ser precioso demais para desperdiçar com algo que não me tocasse a alma.

Confesso que as mudanças foram dolorosas, deixei partes de mim pelo caminho, precisei, deixei amores, velhos sonhos e vontades.

Queria mesmo compartilhar as frustrações da vida. Chorei muitas vezes quando não consegui algo que desejava muito. Achei que era incapaz de muitas coisas e vejam só, algumas coisas tomaram seu devido lugar. Não sei se fui fazendo minha parte, porque também cometi erros- alguns intencionais, outros nem tanto.

Escutei que ninguém iria ler meus textos idiotas, mas a vida me deu de presente leitores. Mantive-me fiel, quase que sem acreditar, naquilo que fazia por amor e com amor.

Dei os meus maiores medos e angustias a pessoas que nem conhecia, assim como dividi felicidades, historias e sorrisos.

E assim, todos meus planos deram um jeito de me invadir em outras formas. A minha primeira tentativa de faculdade foi jornalismo e mesmo não concluindo o curso, percebi que essa profissão nunca esteve longe dos meus dias.

Então a gente tem mesmo que acreditar.

O que eu quero dizer com isso tudo? É que realmente não importa o tempo, se estamos velhos ou jovens, nosso coração é passível.

Que não importa o quando demoramos em nos desenvolver ou para escolher o que queremos da vida, até porque não tem mais importância não saber. Podemos ser um monte de coisas – tudo junto.

Por hobby, por compromisso, por vontades. Quem foi que disse que tínhamos que ser algo só.

Que momento que nos foi dito que deveríamos seguir apenas uma linha, apenas um sonho e um objetivo. É um direito nosso acreditar que tudo é possível, sim.

Que os trajetos até que tempestuosos são processos dos quais devemos nos orgulhar.

Orgulho de nossas escolhas até mesmo erradas, orgulho por bancarmos o que somos e por seguir na direção que nosso coração, às vezes teimoso nos obriga. Ter a doce fé na vida…

Acho que devo agradecer o curso das coisas, como um rio sempre fluindo, que me levou sem grandes pretensões onde estou.

Gosto do que vejo no espelho, gosto do que vejo em minha alma.

Ainda angustiada com as contas a pagar, com o sobrenome a zelar, com as obrigações e com o trabalho – e querendo ou não – às vezes é só um trabalho.

Ainda queremos ser capazes de nos aventurar em novas possibilidades e mesmo que dentro de nós diga, não posso ou não devo, devemos experimentar.

Quero deixar registros aos meus filhos de uma vida em que procurei ser feliz e não agradar.

Quero deixar coisas boas nos corações de quem convive comigo.

E por fim, quero encontrar em mim todas as coisas boas que desejo ser.

E também quero compartilhar com as pessoas a difícil tarefa que é ser fiel a nós mesmos.

 

 

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