Friday, 29 de March de 2024

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The Last of Us: O melhor jogo sobre paternidade que já joguei

The Last of Us

The Last of Us

Pretendo utilizar esse espaço para falar sobre minha entrada na “vida adulta”. Utilizo esse termo genérico com relação à fase da vida onde cabe ao ser humano ficar bobo e resolver casar, comprar uma casa, constituir família, entre outras cositas más. Sei que parece sacanagem escrever sobre vida adulta e começar falando sobre videogame, mas no final tudo se encaixa, confie.


O videogame está enraizado na minha vida por bem ou por mal, mas ai daquele que falar que é por mal. Não me considero um “nerd fanático” ou coisa parecida, mas várias fases da minha vida foram regadas a jogos eletrônicos e me lembro muito bem quando meu pai entrou em casa todo fanfarrão com a aquela caixa cinza escrita Polivox em azul e logo em cima, em vermelho, ATARI. Quantas emoções! Meu primeiro palavrão foi jogando Atari.

Atari

Atari: o começo de tudo.

Tá bom, não o primeiro, mas o primeiro que eu lembro ter dito, pois ofendi a mãe do pobre sapinho que não conseguiu atravessar a rua sem ser atropelado, isso tudo com minha mãe presente na sala. Entendeu por que lembro bem?

Minha primeira festa na casa de amigos foi jogando videogame, e sim, com meninas presentes! Deixei de ir pra escola, estudar para provas, vestibulares, brincar lá fora, procurar emprego por causa do famoso “só mais essa fase”. Passei pela peste negra dos jogos de videogame (fim dos cartuchos, inicio dos jogos de computador, até o lançamento do Playstation) e sei que muitos jovens não sobreviveram a aquele período medieval dos videogames. Sobrevivi e cheguei aqui. Um homem adulto que joga videogame. Fuck!

Esse sentimento me deixa meio complexado, pois sei que muitas pessoas consideram videogame coisa de criança. Compreendo isso. Imagino mesmo que as caras e bocas de alguém empolgado com um jogo não deve ser a coisa mais interessante, sexy ou mesmo inteligente de ser ver.

Mas só eu mesmo sei o quanto aprendi com videogame. Seja a economizar dinheiro (pra comprar uma espada de cerâmica), ou administração (de uma cidade que depois eu destruía de alguma forma) ou mesmo direção (tá, nem vou comentar sobre GTA). Mas o videogame me trouxe muita bagagem para a vida.

Tá bom. Quem eu estou querendo enganar. Se eu fosse jogar videogame pra apender algo de bom, nem começava. O negócio é diversão, tirar o stress, salvar o mundo ou acabar com ele. Mas mesmo assim aprendi.

E chego hoje, nessa fase de mudanças, jogando The Last of Us. Não vou comentar muito sobre a jogabilidade que é muito parecida com a de muitos jogos que estão por ai, não que isso seja ruim, pois se esquivar de infectados ou se esconder de humanos mal intencionados nunca deixará de ser divertido. As habilidades de criar armas, ou medicamento com objetos encontrados pelo caminho também são interessantes, ainda mais por que é um motivo para se explorar os belos (tá, belo foi pras meninas: os fodásticos) cenários do jogo: um mundo pós-apocalíptico onde a natureza já começa a retomar seu terreno.

Mas Last of Us me surpreendeu mesmo foi no quesito história. Sei que os videogames evoluíram muito desde seus primórdios, tanto em tecnologia quanto em enredo, mas o que me impressiona é a simplicidade da história com uma carga dramática surpreendente. É impossível não sentir medo, angustia, dó, alegria e vários outros sentimentos com Joel e Ellie.

Duas pessoas que se encontram nesse mundo sem amor e acabam encontrando um pouco de alegria e companheirismo um com o outro. É de encher os olhos de lágrimas e também emocionante apenas por perceber a complexidade emocional, principalmente da menina que não conhece o mundo antes da infecção e descobre ele de uma forma tão difícil. Em determinado momento, por exemplo, (sem spoilers, tá!?) Ellie encontra um diário de outra garota e pergunta a Joel se é sério que as únicas preocupações daquela garota eram quais roupas vestir ou se o garoto da escola gosta dela. E a resposta de Joel, outro ser multidimensional e complexo em sua forma de ver o mundo, me fez pensar muito nas coisas:

“É tudo relativo”.

Talvez você, novinho, deve estar pensando que estou mesmo ficando velho ou que então meu namorado deve ter ficado segurando minha mão nessa cena do jogo enquanto acalmava meu choro. Na verdade, quero sim, mostrar esse jogo para minha namorad(A) pois el(A) está entrando nessa fase de ficar adulto e ter filhos comigo. E é mesmo emocionante e angustiante acompanhar um homem sofrido como Joel e que, depois de tudo que passou, precisa manter aquela menina viva por nenhum outro motivo que não seja o amor que ele reencontrou em alguém inocente, indefeso e cheio de vida.

Talvez jogando Last of Us eu tenha começado a, realmente, imaginar um pouco o que deve ser a paternidade. E chego nessa nova fase com uma vida apenas, sem saber como será o próximo chefão, ou muito menos como será o final desse jogo chamado vida.

Tá aí mais uma coisa que o videogame me fez pensar.

P.s.: Se você não tem ou terá oportunidade de jogar The Last of Us, recomento assistir esse walkthroug (em português) do jogo:
)

Como meu próprio braço se você assistir os primeiros 15 minutos e não achar melhor do que The Walking Dead (que já anda morto, mesmo) ou qualquer outra grande produção sobre o

tema.

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